O leitor já se questionou sobre algumas das razões que poderão justificar esta ambivalência ou o que torna a mente humana tão resistente a certos factos científicos? Alguma vez considerou a forma como recolhe a informação científica quando dela necessita para se posicionar face a uma temática ou tomar uma decisão? Quando pesquisa sobre um determinado assunto procura informação especializada, credível e isenta? Já lhe aconteceu, talvez sem se aperceber, acabar por selecionar informação que reflete e corrobora as suas próprias crenças e opiniões? Estudos científicos evidenciam uma tendência para desvalorizarmos a informação científica quando esta não reflete as nossas predisposições culturais e indiciam ainda que as nossas decisões tendem a perpetuar o estilo de vida adotado, manifestando resistência a mudanças que afetem diretamente o nosso dia a dia (Kahan, disponível em https://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1871503).
A Ciência, revestida do principio básico de procura da verdade, não pretende decidir pelo leitor, mas possibilitar um processo de análise das certezas e incertezas, dos riscos e benefícios envolvidos e uma tomada de decisão informada e esclarecida. Para tal, é também vital que o conhecimento científico seja disponibilizado pelos cientistas num formato que seja compreensível e utilizável no quotidiano pelos cidadãos, dificultando que estes se tornem alvos de políticas e indústrias que lucram quando não se questionam eventuais interesses envolvidos ou se decide com base em receios infundados.
Com foco nestes pressupostos, a investigação desenvolvida no domínio da Didática das Ciências procura contribuir para a concretização dos objetivos referidos colaborando com futuros professores, no âmbito da formação inicial de professores na Universidade de Aveiro (https://www.ua.pt/PageCourses.aspx?c=2), e com os docentes nas escolas no sentido de possibilitar aos estudantes não só a construção de conhecimentos estruturantes, a compreensão da natureza e do modo de pensar científico, mas também desafiar a promoção de capacidades de pensamento ligadas à análise crítica que possam conduzir à tomada de decisões democráticas, conscientes e cientificamente sustentadas.
Nota: Os substantivos “leitor”, “cidadãos”, “estudantes”, “professores” entre outros, são apresentados no masculino apenas para efeitos de clareza de leitura, pretendendo ser inclusivos de ambos os géneros.
Este artigo foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico
Ana Sofia Sousa, investigadora do Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (CIDTFF), anasofiasousa@ua.pt
Rui Marques Vieira, investigador do CIDTFF e professor do Departamento de Educação e Psicologia da UA, rvieira@ua.pt